quarta-feira, maio 31, 2006

O zen e o hindu

"Certo estudante, em busca da iluminação interior, procurou um monge chamado Kwan-Zan para intruí-lo. Este perguntou-lhe onde tinha estudado e o que apredera. O ardoroso estudante respondeu que seus conhecimentos foram adquiridos no Monastério Yogen, sob a direção de Jkashitzu. Lá, aprendera tudo sobre o caminho gradual da meditação e, para demostrar-lhe a técnica meditativa, sentou-se a um canto, tranquilamente, de pernas cruzadas. Permaneceu assim durante alguem tempo, quando foi sacudido por Kwan-Zan que, aos gritos, lhe apontava o caminho da estrada dizendo: 'Fora! Meu mosteiro já tem muitos Budas de pedra! Não necessitamos de mais nenhum!'"

E um pequeno Koan:

"Há muito tempo um homem colocou um ganso no interior de uma garrafa. Ele cresceu tanto que de lá não pôde mais sair. Como poderá o homem retirá-lo da garrafa, sem quebrá-la nem ferir o animal?"

fonte: Introdução ao Zen-Budismo; D. T. Suzuki

terça-feira, maio 30, 2006

Sonhos

Os sonhos, as vezes, nos contam verdades indecifraveis em nossa vida diurna. Pois foi isso que me aconteceu esta noite (29/05-30/05) (29+5= 34, 3+4 = 7) (30+5 =35, 3+5=8). Uma voz me disse que as pessoas tem Iodo nas suas cabeças, de forma inata. Achei interessante, apesar deu não ter qualquer conhecimento do que Iodo signifique; no maximo, eu sabia que era um elemento da tabela periodica. Acordei então, e perguntei aos meus pais. Minha mãe então me disse que o Iodo é utilizado em machucados para que estes tenham uma melhoria, ou seja, como especie de curativo. Achei muito interessante. Talvez meu sonho seja mais inteligente do que eu..

Resolvi então procurar na internet, e eis o que mais achei: (obs: os negritos são meus).

O iodo foi descoberto em Maio de 1811, pelo químico francês, Bernard Courtois, que estava encarregado de produzir nitrato de potássio para os exércitos de Napoleão. O processo de Courtois consistia na conversão de nitrato de cálcio, oriundo de depósitos de salitre, em nitrato de potássio, por intermédio da potassa. Esta era obtida a partir das cinzas de algas marinhas. Courtois verificou que quando lavava essas cinzas com ácido sulfúrico, para extrair certas impurezas, surgia um leve fumo que se condensava nos instrumentos de cobre, corroendo-os. Posteriormente observou a formação de um precipitado, que ao ser aquecido dava origem a um vapor de cor violeta. As propriedades desta nova substância foram primeiro investigadas por F. Clement e J. B. Desormes e posteriormente por Gay-Lussac, que a identificou como um novo elemento. Gay-Lussac chamou-lhe iodo, que deriva da palavra grega para violeta.
Desde a sua descoberta que o iodo tem vindo a contribuir para o desenvolvimento da tecnologia química. Destacam-se as pesquisas de Hofmann em química orgânica sintética, bem como as de Williamson, Wurtz e Grignard, em meados no século XIX.

e em outro canto:

Nome: Iodo
Número Atómico: 53
Símbolo Químico: I
Configuração Electrónica: [Kr]4d105s25p5
Abundância:
Terra: 0.14 ppm Nome: Iodo

constatações: 53 o seu numero atomico.. invertido: 35 (o dia do sonho).. 3 + 5 = 8

fonte: http://nautilus.fis.uc.pt/st2.5/scenes-p/elem/e05300.html

segunda-feira, maio 29, 2006

Sexdução generalizada


Escuto sua respiração, lentamente, que se mistura aos seus gemidos como notas harmônicas. Olho os seus olhos brilharem como um sol interior, radiantes. Coloco lentamente meu pênis em sua vagina lubrificada pelo desejo. O vento ressoa na janela de nosso prédio de oito andares. “Meu bem, isso é maravilhoso” penso com meu coração. Telhados enormes cobrem nosso prédio, como uma antiga casa suíça, mas sem a neutralidade padrão. É demasiadamente proposital, demasiadamente intencional. Tambores rugem de antigos totens pós-modernos pendurados nas paredes, que se misturam naquele cenário polimorfo com computadores, pichações e livros desorganizados. O ritual se passa agora, neste eterno agora, neste antro da sedução, do prazer e do amor.

Um passaro passa pela janela e reluz sobre a beleza daquele momento singular. Já não há mais como saber se são as couraças que vão sendo des-feitas, as qlippoths eliminadas, ou se, de fato, elas nunca existiram. Livres, a chuva jorra. A liberdade, em seu vôo, observa a prisão hedonista, enquanto a liberdade hedonista observa a prisão voadora. Tudo se entrelaça em movimento ondulatórios, o sagrado e o profano, o divino e o diabólico.

Fogos de artifício anunciam a chegada de drogas no morro, que trarão êxtase e vicio aos seus usuários, mas, no quarto, naquele momento, onde lambo aqueles seios protuberantes e mordo voluptuosamente aquela pele macia, já não ha demarcação entre o livre arbítrio e o vicio, entre a vontade e o desejo, entre a liberdade e a necessidade, entre o infinito e o finito. Tudo se mistura por raios invisíveis de libido orgonotica em um manto cosmológico que cobre cada ser. Cada orgasmo gerado produz uma sociedade livre. Cada momento bem realizado produz liberdade. A razão perde a guerra, o prazer triunfa, ao menos, naquele momento, onde todas as leis e grilhões são quebrados, o amor prospera, a semente germina, a mutação se traduz em alegria. Dionísio beija Apolo, Afrodite fica maravilhada, Isis da luz para as estrelas brilharem, os quatro deitam na cama e dormem, enquanto Hermes traz do céu uma coroa.

quinta-feira, maio 25, 2006


Não é o fogo que destroi,
é o vazio.
Não é o diabo que mata,
é o deserto.





Nada melhor que a morte,
e a ressureição.
Os vários deuses que nos olham,
no outro mundo, as vezes nos dão a mão
E novamente o campo pode germinar bons frutos.

Conversa de Bar


Ainda sobrou alguma coisa, vida,
Do que fiz contigo,
em minha tortura?
diz que ainda sobrou aquele suspiro, vida
para eu poder me re-abilitar
e juntos podermos frutificar

Me desculpa se te corrompo com meus lamurios
vida, me perdoe
Por ser um imbecil que te corroi
vida, deixa eu te amar
Não preciso mais disso, me culpar,
por coisas tão imbecis que fiz
Não quero mais ficar neste cubiculo azedo.
Acredite em mim.

Eu quero a rosa do outono, vida
Quero a primavera florida.
Quero brincar de pique esconde, vida
Mas não quero mais a tempestade
que não precisa existir

Quero saber que os momentos terríveis existem,
e que não preciso cria-los em minha alma
quero saber vida, e com tal força, que você é a mais bonita
a mais bonita das joias deste mundo

quarta-feira, maio 24, 2006


Introdução ao Real

Parte IEpistemologia e os Gregos.

Eu me interesso pela epistemologia a algum tempo, apesar de não ser um estudioso no assunto. Para quem não sabe, epistemologia provém do grego: “episteme = conhecimento superior + logos = discurso, estudo”, o termo era utilizado por Platão que o distinguia da Doxa, que era o saber do senso comum. Dessa forma, o termo epistemologia foi utilizado como estudo dos saberes científicos, que procura determinar as condições que possibilitam o ato de conhecer, tal como, a discussão de questões referentes a sistematização e transmissão do conhecimento nas diferentes áreas de saber. Segundo alguns, ainda, a epistemologia teria nascido no momento do nascimento da filosofia grega, com Tales de Mileto.


Uma questão essencial da epistemologia já começa nos gregos: O que é real? O mundo dos sentidos? O mundo dos deuses? O mundo da razão? Como conhecemos? A primeira busca grega foi encontrar decodificadores universais para o caótico universo.
Tales, por exemplo, falava que tudo provinha da água. Temos, por exemplo, sua citação: “Tudo é água e o mundo está cheio de deuses” e a partir desta água primordial tudo se tornava diferenciado. É interessante observar que a água possui um aspecto simbólico de emoção, tal como, de inconsciência. Bem, partimos então, de uma concepção central, de onde tudo mais provinha, tal como: “Tudo vem de Deus”, ou ainda, como para Heráclito, tudo provinha do fogo. Claro que estes aspectos são, em sua maioria, metafóricos. Temos, ainda neste período Empédocles que propunha que tudo provinha de quatro elementos distintos (água, terra, fogo, ar) e estes eram eternos e se separavam e uniam-se através consecutivamente da discórdia e do amor (Éris e Eros).


O maior conflito nesta época, contudo, se deu entre o pensamento socrático e platônico contra o pensamento dos sofistas. Para Platão os sentidos não eram um método confiável de conhecimento, pois eles eram por demasia pessoais e sempre passiveis de mudança, por exemplo, podemos dizer que cada ser humano vê uma cor de rosa diferente, podemos dizer que cada ser humano pode considerar uma mulher bela partindo de diferentes características de análise, ou seja, não é possível generalizar e universalizar os julgamentos e as percepções provindas dos sentidos.


Platão então, após estudar com os Pitágoricos, que bebiam da fonte do orfismo e da matemática, procurou criar um conhecimento que transcendia a mera opinião e a mera moral individual, procurando a universalidade. Platão então, através do conhecimento adquirido com Sócrates, fundamentou sua tese sobre os arquétipos, que seriam padrões ontológicos e transcendentes que são a base de todo universo. Padrões racionais, diga-se de passagem. Exemplifiquemos alguns arquétipos platônicos: o bem, o mal, a beleza, a felicidade. O sensível, para Platão, estava relacionado ao irracional, enquanto o supra-sensível (os arquétipos) estavam relacionados a uma racionalidade transcendente.


Uma melhor compreensão acerca dos arquétipos socráticos é dada por Diotima ao falar a Sócrates sobre a beleza:
“Beleza que não se apresentará a seus olhos como a beleza de um rosto, das mãos ou de algo corpóreo, ou como a beleza de um pensamento ou da ciência, ou como a beleza que tem sua sede em outra coisa que não nela mesma, seja um ser vivo, a terra, o céu ou qualquer outra coisa; ele a verá como absoluta, existindo por si e em si, única, eterna, dela participando todas as outras coisas belas, de tal forma que, vindo elas a nascer ou morrer, ela não sofrerá aumento, diminuição ou mudança”.


Para Platão o conhecimento provinha do “Hades” (ai ele faz uma série de distinções no mundo dos mortos no Fédon, que podem ou não ser consideradas como metafóricas), ou seja, do mundo dos mortos. Antes de nascerem os seres humanos conheceriam a Verdade, os arquétipos propriamente ditos, todavia, através do ato de nascimento este conhecimento seria esquecido. Para conhecer o real, portanto, o ser humano deveria voltar-se para dentro a fim de descobrir o que esqueceu. Platão dava, portanto, grande valor a meditação, pensamento, intelecto, análise. Ele conseguiu unir duas tendências dissonantes em sua época, a filosofia de Heráclito que dizia que “Tudo está em movimento” e a filosofia de Parmênedis que dizia que “Nada se modifica, toda modificação é ilusória”.


Nesta mesma época, de Sócrates e Platão, o outro forte segmento da filosofia eram os Sofistas que apenas acreditavam no conhecimento humano, no conhecimento relativo e particular, negando as generalizações. Platão, em seu ensaio sobre os Sofistas chama-os de “Erisianos mercenários” (o que nos faz lembrar, excluindo os mercenários, do movimento discordiano, que abordaremos mais a frente). Os sofistas cobravam para ensinar a arte da retórica, arte que Sócrates, por exemplo, era muito bem instruído.


Foi justamente a esse “o real de tudo está no indivíduo” que Platão atacou. Antístenes (que foi um cínico), filosofo daquela época, afirmava através do princípio de inerência que não se pode afirmar de um sujeito muitos predicados, ou mesmo nenhum que dele divirjam. Ele somente aceitava os predicados idênticos ao sujeito (ex: cavalo é cavalo, azul é azul, alias, o que nos lembra o princípio da identidade e a não-contradição de Descartes – o que é A é A, o que é B não pode ser A).


Uma questão aqui a ser colocada seria: Podemos falar que todos os homens são homens apesar de suas diferenças? Podemos falar que uma letra é uma letra, independente de sua grafia ou estilo do escritor? Podemos falar que todo livro é um livro? Podemos falar que todo trabalho é um trabalho? E, indo além em Platão: Podemos falar que existe uma letra ideal? Podemos falar que existe um livro ideal (um protótipo de livro)? Podemos falar que existe um trabalho ideal?
Para nós talvez seja muito fácil dizer: “é obvio que todo homem é um homem”, mas nem todo homem pensa assim. Estilpão, por exemplo, dizia que os conceitos genéricos não tinham nenhuma realidade e nenhum valor objetivo. Por isso, ao falar de “homem” não se está falando de ninguém, pois não se designa nem este e nem aquele.


Após Aristóteles a base do real passa das idéias universais e transcendentes para as coisas em si e suas categorias. A essência do real não estaria mais nas idéias eternas, mas agora “in rem” (na coisa). Já no enfoque de Aristóteles que podemos designar como universalia in rem (universais na coisa) a forma (eidos) e a matéria coexistem. Diferimo-nos agora do modelo “univeralia ante rem” (universais antes da coisa) platonico e do “universalia post rem (universais depois da coisa) para superar o “tertium non datur” (não há terceiro termo), ou seja, para superarmos a negação da dialética. Dessa forma Aristóteles teve papel fundamental na síntese epistemológica de sua época.


Aristóteles trouxe, portanto, uma imanência viva e não mecânica ao mundo. Expliquemos o porque. Ele voltou-se certamente aos objetos do mundo externo, num certo empirismo, mas com isso não ignorou o movimento da natureza viva, a physis que, para os gregos, tinha uma acepção muito diferente da física para nós. Aristóteles acreditava numa lógica teleológica da natureza, tudo continha um potencial para vir-a-ser bem, mas o que é o bem? O bem para Aristóteles é conseguir manifestar suas potencialidades. Por exemplo: uma semente tornar-se arvore, e um ser humano, parafraseando um nome de livro de Rogers: “Tornar-se Pessoa”. Para a empreitada do ser humano de vir-a-ser o bem existiam alguns pontos nevrálgicos como, por exemplo, o ser virtuoso. A virtude (areté) na Grécia de Homero, por exemplo, tinha uma conotação heróica e inata que, com Hesíodo passa a tornar-se uma construção. E é nesta conotação de construção que Aristóteles a empregará. O sujeito, com sua phrônesis(sabedoria prática), pode descobrir a virtude. A virtude, para Aristóteles, tem uma conotação muito interessante de mediania (meio termo entre extremos) que nos faz lembrar o “Nirdvandva” hindu e a conjuctio oppositorum (união de opostos) para Jung.


É interessante ressaltar a crença irremediável de Sócrates, Platão e Aristóteles (como santo Augustinho e Tomás de Aquino que abordaremos posteriormente) na razão. Os três eram o que poderíamos chamar de essencialistas, pois acreditavam numa essência de racionalidade no ser humano, onde esta mesma ocuparia papel central no cognição da realidade e da verdade.

domingo, maio 21, 2006

Poesia e tratado de escatologia.


As vezes, tudo parece uma vastidão de silêncio,
Seja um silêncio cheio,
seja um silêncio vazio.
As portas estão semi abertas,
a janela está fechada;
O mundo roda, e nada gira,
mas isso é fantástico.

As pessoas olham o corpo e dizem:
nada acontece.
Não conseguem ver as conexões,
pois seus olhos,
não lhes favorecem.

Queimam as mil mutações do atomo
Mas eu só queria ver aquela flor voar
Com a calma serena do vento de outono
Eu só queria sentar aos pés de uma macieira,
e flutuar.



Tratado pela merda iluminada. (Para Nietzsche, pois Nietzsche morreu).

Somos nós que somos pensados, mas achamos que abafamos. Não abafamos nada, apesar de nossos berros -A vela está apagada!". A vela continua acessa bem distante de nossas fezes, que vangloriamos, em nossos tratados escatológicos: "A defecação histórica, eis o que existe e
nada mais!".. Mas, quando descobrirmos que cada merda só existe a partir da luz e da sombra, o que faremos? O que faremos quando descobrirmos que era a vela, esta que gritamos estar apagada, que iluminava nossas fezes? Nem tudo está perdido... pois a luz que emana de fora, também emana de dentro.. e se escavarmos essas fezes, descobriremos a luz. A luz que é de fora, também é a luz de dentro...

terça-feira, maio 16, 2006

Mudança de Habito


Um pouco de autoridade,
vamos lá baby, você consegue.
Um pouco de entusiasmo,
Eu sei disso, você é bom.

Cante comigo, segure minha mão
Vamos girar as rodas da fortuna, amor
Vamos rodar nessa montanha russa
E atirar tiros certeiros
Vamos deixar essa fumaça baixar

Não fique bravo comigo,
eu sei que é assim..
Deixe eu te nutrir amor
Eu sei que você pode,
uns nascem e outros morrem

Cresça saudável, estufe o peito
Cante comigo essa noite,
vamos nos amar, virar um só
eu sei que você consegue.

Diga sim com desejo
Diga assim como desejo
Não espere pelo meu beijo
Bata na mesa e torne real,
O sucesso de seu novo disco vinil, amor
sensacional!

domingo, maio 14, 2006

Pró Voto Nulo!


“Votar em governantes, antes de ser instrumento democrático, é a negação da própria democracia”.

Votar em autoridades que nos “representem”, ao contrário de ser uma tarefa democrática, representa a negação da autoridade dos indivíduos concretos, e das populações locais que são destituídas de seu poder, de suas escolhas, em prol de uma autoridade que não faz parte de suas vidas e tem sua vida particular muito longe da grande maioria da população – que é, na verdade, desgraçada por condições de vida sub-humanas (graças a esse sistema de governantes, ao capitalismo, etc.).

Seria um engano acreditar que o voto nulo é simplesmente um mecanismo de protesto por melhores governantes. Isto seria utilizar o voto nulo para pedir mais desgraça. Com o mandato de Lula fica evidente que, tanto a esquerda quanto a direita institucionais, estão condenadas a corrupção, ao abuso de poder, a não resolver os conflitos e problemas da sociedade. Isso se deve a um problema muito maior do que a simples mudança de políticos. É, incialmente, um problema de todo sistema político.

Observar que o voto em candidatos não pode alterar a situação de degradação do sistema econômico, cultural, filosófico, em suma, paradigmático atual, é o primeiro passo para uma crítica mais efetiva de nossa sociedade hierárquica, desigual e injusta. A questão central, portanto, não deve ser se “50% dos votos anulam a eleição trazendo novos candidatos”, mas sim mostrar a ilegitimidade da autoridade dos governantes (presidentes, governadores, etc.) que, querendo ou não, serão corrompidos em seus mandatos. Devemos trocar o poder de governantes que não conhecem as nossas vidas por uma política que vise a autonomia dos indivíduos e bairros, com suas especificidades, trazendo o poder de volta ao povo efetivamente. Apenas desse modo poderemos falar em democracia, que como a etimologia da palavra nos diz, vem de: “demo – povo” “cracia – governo”, ou seja, o governo do povo.

Propõe-se, dessa maneira, uma política afirmativa através do voto nulo e não simples forma reativa de protesto. Buscamos o fim do capitalismo e criar uma organização descentralizada de poder, dando-o a quem lhe é devido: aos bairros, aos trabalhadores, as pessoas e criando, através do voto direto nas questões locais, a verdadeira democracia, a democracia direta!

quarta-feira, maio 10, 2006


Sociedade, Grupos e Movimentos Sociais.

1 – A classe média e classe usurpadora em suas relações sociais.

Mediante a grande atuação dos movimentos sociais na atualidade e, não menos presente, a atuação de grupos ideologicamente determinados nestes, surgiu à idéia de fazer um texto abordando alguns aspectos psicológicos e sociais presentes nestas relações. Antes, acredito ser interessante falar um pouco sobre as opiniões contemporâneas da classe média (que seria um erro, hoje, chamar de “pequena-burguesia”), e da classe rica (ou classe usurpadora), sobre os movimentos sociais para termos alguns insights sobre as visões e relações “gerais” da sociedade.
É interessante ver como se confundem nas opiniões, da classe média, as ilusões do virtual em detrimento do concreto. Vemos comumente, na classe média, difundida a idéia de mobilidade de classes, onde o jogo de acumulação do capital se associa à idéia da potencialidade do indivíduo de “vencer na vida”, como ter propriedades dependesse do quão apto, potente e evoluído é o indivíduo. A idéia espetacular do summum bonum (sumo bem) que é fantasiada pela burocracia (governo do escritório), através da mídia de massa, é a idéia de que o “bom” é alcançado através da ascensão monetária, onde a acumulação de capital passa a ser imperativo de um modo de vida feliz e fantástico. O indivíduo que consegue ascender socialmente é bom e poderoso. O jogo de valores foi invertido. Ao invés das pessoas criarem os valores, eles são definidos pela sua acumulação de capital. Devíamos ser nós a falar: “o dinheiro é bom ou o dinheiro é mal porque, através dele, acontece/faço X ou Y” e assim definir a qualidade do objeto, mas, ao contrário, o dinheiro nos define: “Fulano é bom porque possui dinheiro”, “Fulano é potente porque possui uma Ferrari”.
A propaganda, seja através de signos, seja através de imagens, passa de maneira subliminar e inconsciente(1) os valores que a população deve se submeter. Cria também, com efeito, a falsa idéia de mobilidade social relacionando à potencialidade do indivíduo, eliminando assim as influências sociais e políticas da miséria, ignora dessa forma que a formação de classes(2) é resultado, dentre outros, da política capitalista.
Guy Debord fala-nos um pouco sobre essa situação:
“A separação é o alfa e o ómega do espetáculo. A institucionalização da divisão social do trabalho, a formação de classes, tinha construído uma primeira contemplação sagrada, a ordem mítica em que todo o poder se envolve desde a origem. O sagrado justificou a ordenação cósmica e ontológica que correspondia aos interesses dos Senhores, ele explicou e embelezou o que a sociedade não podia fazer. Todo poder separado foi pois espetacular, mas a adesão de todos a uma tal imagem imóvel não significava senão o reconhecimento comum de um prolongamento imaginário para a pobreza da actividade social real, ainda largamente ressentida como uma condição unitária. O espetáculo moderno exprime, pelo contrário, o que a sociedade pode fazer, mas nesta expressão o permitido opõe-se absolutamente ao possível. O espetáculo é a conservação da inconsciência na modificação prática das condições de existência.” (Debord, 1997, n 25).
Debord mostra que, na contemporaneidade, não foi desfeita a idéia de in-mobilidade das condições de existência. De fato, foram apenas passadas as idéias de “mobilidade social” e “liberdade econômica”. A classe média, portanto, em sua maioria, continua a não compreender diversos movimentos sociais “mais radicais” (ou mais combativos), pois não entende o que seria uma modificação econômica, organizacional e psíquica numa sociedade. Para ela a sociedade “é como é”, ou seja, esta estratificada para sempre no capitalismo, de tal modo que, parece coisa extremamente absurda cogitar um novo modo de organização, um novo modo de vida. Para a classe média e classe rica, analisando de forma genérica, o “il faut savoir-vivre” (é preciso saber viver) é “sempre” o “saber-viver” dentro do sistema capitalista, é uma adaptação a neurose social contemporânea. E, indo além, é o “passar por cima dos outros” para ascender socialmente no jogo “darwinista social” criado pelo pensador Spencer e consagrado por Stirner. É a competição de todos contra todos. A classe média acredita piamente que se todos os miseráveis (inclua-se movimentos sociais dos trabalhadores) trabalhassem e estudassem eles teriam condições de ter um “bom emprego” e uma “boa família” (leia-se emprego e família capitalista).
Ignoramos hoje a condição humana, pois “Como diz Alvenga, a característica do homem é sua mudança” (Melo, 2002). É o absurdo contemporâneo.

2 – Os Movimentos Sociais.

A) Grupos x Massa x Pessoa.

Abriremos este tópico com uma distinção muito básica de “grupo”, “massa” e “multidão” para após analisarmos os termos e tentarmos definir, dentro dos limites, bons modos de atuação para movimentos sociais, sejam eles ideologicamente determinados ou sem uma ideologia clara. Para a definição buscamos Franz, que define: “(1) grupo, i.e., um conjunto de pessoas que estão relacionadas entre si intelectualmente ou no nível de sentimento e em que cada uma desempenha determinado papel; (2) multidão, i.e., um ajuntamento aleatório de pessoas; e (3) massa, i.e., uma grande multidão emocional e instintivamente unida que, de modo geral, segue um líder”. (Franz, 1999).
Antigamente, segundo Franz, o grupo ordenado e a massa caótica apresentavam contrastes mais nítidos do que na contemporaneidade, contudo, “tendiam a tombar um sobre o outro com mais facilidade; os grupos primitivos facilmente se descontrolavam, assim como os grupos de jovens ou de pessoas mentalmente instáveis, mas, enquanto fenômenos, eles são mais rígidos em um nível primitivo (tabus!), e os fenômenos caóticos de massa tendem a ser mais turbulentos e histéricos” (ibid). Dessa forma, os grupos tendiam a ter regras preto-e-branco, ou seja, não relativizadas e, como diz Franz, quanto “mais efetivamente civilizado se torna o homem, mais flexíveis se tornam suas regras sociais de comportamento (...)” (ibid). Lembremos ainda que para Proudhon a pluralidade era a base da liberdade, segundo Trindade, grande estudioso em Proudhon: “A teoria da liberdade como força de composição é o ponto de partida e conseqüência do justicialismo ideo-realista. A liberdade é tornada possível pelo jogo de pluralidade das forças antagônicas do universo físico, social e pessoa; (...) ela é eficaz pela multiplicação das relações sociais, e engrenagem de todas as liberdade”. (Trindade, 2001), e prossegue “Só a liberdade eficiente, que implica a moral e a educação, é a liberdade total” (ibid).
Os grupos, portanto, apresentam maior organização, metas melhores construídas, objetivo mais bem delimitado, contudo, quando se extremam, radicalizam, tendem a gerar fanatismos ideológicos, como os fanatismos religiosos antigos. Já do outro lado, a massa tende a ignorar as ideologias, ignora, em grande parte, os indivíduos que participam dela, pois seu objetivo é sempre mais imediato, menor organizado e, se ela se radicaliza, pode produzir conteúdos emocionais compulsivos e explosivos, sendo direcionados para o bem ou para o mal.
Acreditamos que o melhor seria um equilíbrio entre a massa e o grupo, pois grupos muito burocráticos e rígidos podem inibir a singularidade de seus indivíduos, tal como, massas pouco estruturadas podem levar ao vazio, ou seja, a improdutividade. Certo é que a experiência de grupos, de pessoas unidas, gera um aumento da força e da potencia, possibilitando a chegada em um objetivo. Como diria Raul Seixas: “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”.
A pessoa deve poder estar na tensão dialética entre o seu “próprio”, sua singularidade, e a moral-teoria grupal, coletiva, seus valores. O grupo então deve sempre ter o cuidado para não podar os indivíduos e suas singularidades, ao mesmo tempo em que não deve permitir um jogo de tiranos, de todos contra todos, como o Einzige (único) que propôs Max Stirner e sua exaltação do egoísta. Um grupo é sempre uma relação e as pessoas devem aprender a con-viver e se inter-relacionar, pois estão em contato com outras pessoas e numa troca constante.
Necessário é, numa dada situação, que mesmo um grupo organizado releve algumas de suas próprias regras para dar a espontaneidade uma oportunidade, como em determinados momentos “a flor da pele” esta espontaneidade é necessária, não perdendo, contudo, seu próprio objetivo, sua teleologia. A massa caótica, no entanto, também deve ser contida por regras, mesmo que mínimas – quando a autonomia dos indivíduos do grupo permitir – para não cair num mero “destruir por destruir” ou “fazer por fazer”, sem uma perspectiva de construção ou criação de alternativas.
O zoólogo Adolf Portmann “salientou que entre grupos de animais mudanças criativas de padrões de comportamento só podem ser iniciadas por indivíduos. Por exemplo, um pássaro individual de um bando de pássaros migratórios decide permanecer no mesmo lugar durante o inverno. Se morre, nada mais resulta; mas se sobrevive, outros pássaros poderão ficar com ele no inverno seguinte, e assim, lentamente, todo o grupo algumas vezes muda os hábitos”. (Franz, 1999).
Não queremos aqui ignorar as mudanças que ocorrem simultaneamente em um grupo, região, ou mesmo no mundo – ou quando elas, apesar de terem sido originadas numa constelação psíquica de apenas um indivíduo se proliferam antes de, de fato, terem chegado a serem conduzidas conscientemente -. Acreditamos nessa possibilidade bem colocada pelo também biólogo Rupert Sheldrake em sua teoria dos campos morfogenéticos e pelo psicólogo Carl Gustav Jung em sua teoria do inconsciente coletivo. O que não queremos ignorar é a possibilidade de criação individual e a singularidade dos indivíduos que não podem ser rompidas e engolfadas pelo processo grupal.
Na psicologia de Jung chamamos o processo de singularização de “processo de individuação”. Esse processo não pode ser abandonado, pois sem ele inevitavelmente cairemos sobre o domínio de autoridades, tiranos, fundamentalismos, etc., pois não temos, sem esse processo, autoridade o suficiente, em nos mesmos, para confrontarmos-nos com o poder. Com efeito: “A individuação é, em ultima analise, incompatível com quaisquer exigências de um poder coletivo, ainda que este esteja dissimulado através da atitude de um líder de grupo bem intencionado (...) pois somente o Si-mesmo é capaz de nos conferir uma autoridade natural que não foi solicitada pelo ego” (ibid). O processo de individuação é um processo que nos leva a nosso modo mais próprio de ser.
Para a meta de integrar o grupo, as massas espontâneas, caóticas e o indivíduo, construímos o texto: “convergência anarquista” uma união entre o anarquismo histórico organizado e a espontaneidade e a volição do chamado anarquismo ontológico. Claro que isso é apenas uma pequena introdução capenga a essa tentativa que pode ser mais bem organizada no passar da história.

B) Lideranças

As lideranças, na maioria dos casos, prestam um desserviço aos grupos e as sociedades, pois através da representação concêntrica ignoram a autonomia dos cidadãos e criam a resignação. Fica evidente que as pessoas que pertencem a movimentos onde as autoridades se institucionalizam tendem a projetar (falaremos a posteriori sobre a projeção) na autoridade (líder) todas as suas responsabilidades e toda sua potencia nessas figuras. A liderança, em geral, cria uma hierarquia que evita o crescimento e o amadurecimento da população, de um grupo, ou de um movimento social.
Claro que não podemos ignorar as diferenças entre os tipos de liderança ou autoridade. Mas aqui é um campo dinamitado; perigoso pisar e explodir. A autoridade pode ser uma autoridade naturalmente instituída e não formalizada como, por exemplo, uma pessoa que sabe muito uma determinada teoria e uma outra pessoa, por apreciá-la, imputa-lhe esse status. Outro exemplo seria uma pessoa carismática que atrai as pessoas ao seu redor como Gandhi. Existem também as autoridades institucionalizadas que podem ser ou não autoritárias, ou seja, que utilizem sua autoridade para coagir, reprimir, manipular, comandar, etc. As autoridades institucionalizadas tornam-se, muitas vezes, grandes problemas para os grupos, pois resultam, muitas vezes, em autoritarismos. Quando essa atitude paternalista dos lideres não está presente não há necessidade de um líder institucionalizado. O líder é a negação da liderança dos indivíduos. Ele impede o movimento autônomo dos agrupados, pois evita que eles tomem decisões, como acontece no processo da democracia representativa. O melhor seria, acreditamos, que qualquer tipo de autoridade fosse se desfazendo com o tempo para dar lugar a autonomia dos indivíduos e da coletividade, todavia, não é absurdo que existam pessoas mais admiradas, respeitadas e valoradas do que outras, tal como, não é absurdo dizer que essas pessoas exercem certa autoridade sobre seus companheiros.
Ainda existe, entre outros, um grande perigo no processo de liderança. A organização que trabalha de forma hierárquica ou com lideranças informais permanentes só atrai indivíduos fracos e inseguros, incapazes de tomar decisões e incapazes de criação; são aqueles indivíduos que devem seguir toda cartilha de alguma teoria já pronta. Em um grupo, o líder do grupo muitas vezes é quem se identifica com o “espírito do grupo” e isso acaba por tornar-se problemático. Identificado como espírito do grupo o indivíduo reforça apenas opiniões simétricas as suas e tenta “coletivizar” o pensamento do grupo, no sentido de reificar todos ao mesmo pensamento. Nesta tentativa de coletivizar as opiniões, cortando as individualidades e diferenças, a singularidade se degenera em egoísmo contido, reprimido, pois surge uma necessidade latente de opiniões próprias.
Evidente que é necessário opiniões comuns e objetivos claros, mas, não é interessante a formação de robôs ideologicamente controlados por contingências externas. Acreditamos que o melhor processo grupal se de na maneira horizontal, não só com votos iguais a todos, mas também estimulando, a todo momento, a autonomia dos indivíduos e não apenas do grupo. O grupo não pode estraçalhar o indivíduo, tal como, o indivíduo também não pode passar por cima do grupo. Novamente estamos num ponto dialético e tenso, pois uma relativa permissividade deve ser possível, ao mesmo tempo em que contradições absurdas devem ser podadas, como, por exemplo, um indivíduo que seja a favor da pena de morte entrar para um grupo de pacifistas, um autoritário ou capitalista entrar num grupo anarquista.

C) Projeções nos processos grupais.

O termo projeção é usado de mais de uma maneira, portanto, definamo-nos o que queremos dizer quando dizermos “projeção”. Segundo Franz: “A psicologia profunda de Sigmund Freud e a de C. G. Jung têm em comum o uso da expressão projeção, mas cada um deles a utiliza com significado diferente. Na visão de Freud, a projeção ocorre quando uma pessoa neurótica se livra de um conteúdo emocional, deslocando-o para outra coisa como o objeto de intenção (...) (ibid). Na visão de Jung, contudo, esta é apenas uma entre muitas possibilidades. De acordo com ele, todos os conteúdos psíquicos dos quais ainda não temos consciência aparecem de uma forma projetada como supostas propriedades de objetos externos. A projeção, a partir desse ponto de vista, é um deslocamento que ocorre de uma maneira não intencional e inconsciente, ou seja, sem ser percebido, de um conteúdo subjetivo para um objeto externo”. A projeção leva, pois, a um relacionamento irreal. Para Jung, em suas palavras, projeção significa: “transferir para o objeto um processo subjetivo. (É o oposto de introjeção v.). A projeção é portanto um processo de dissimilação em que é tirado do sujeito um conteúdo subjetivo e incorporado de certa forma ao objeto. Pela projeção, o sujeito se livra de conteúdos penosos e incompatíveis, mas também de valores positivos que, por qualquer motivo, como, por exemplo, a auto-subestima, são inacessíveis a ele.(...)” (Jung, 1991).
O processo de projeção se da não apenas na relação entre duas pessoas, mas também em processos grupais e sociais. É muito constante vermos grupos se demonizando e se um terceiro observador, que nada sabe, observa-se a situação veria que nenhum deles tem razão, ou seja, ambos tem perspectivas irreais que alimentam mutuamente. Dessa forma, através de uma projeção, determinados grupos podem projetar suas sombras em outros grupos ao invés de lidar com elas, seja falando que o outro grupo é autoritário, demagogo, reformista, antiético, pequeno burguês, desorganizado, burocrático, etc.
Quando falamos de sombra queremos dizer: “O termo ‘sombra’, como conceito psicológico, refere-se ao lado obscuro, ameaçador e indesejado da nossa personalidade. Nossa tendência, no desenvolvimento de uma personalidade consciente, é buscarmos incorporar uma imagem daquilo que gostaríamos de ser. As qualidades que pertenceriam a essa personalidade consciente, mas que não estão de acordo com a pessoa que queremos ser, são rejeitadas e vêm a constituir a sombra” (Sanford, 1988). Um exemplo de sombra não integrada é a história “o médico e o monstro” de Stevenson.
As projeções podem, portanto, ser projetadas de maneira coletiva num determinado grupo rival, por exemplo, no jogo cíclico entre punks e skinheads, entre partidos políticos, na relação da população alemã no nazismo nos judeus, negros, homossexuais, etc. E também podem ser projetadas de maneira individual, como um indivíduo com medo de um aspecto seu, como seu “autoritarismo” começa a projetar em indivíduos e grupos aquele elemento, emocionalmente carregado, que ele não consegue lidar em si mesmo. Cegamo-nos com a faca amaldiçoada de Édipo para não vermos a nossa lastimosa face no espelho.




1 – Quando falamos de inconsciente aqui referimo-nos ao inconsciente pessoal, descrito por Carl Gustav Jung (1875-1961).

2 - Seria interessante ainda um estudo sobre até que ponto essa palavra ainda possui validade e de que modo ela pode ser definida. Se de maneira simplista, como bloco de pessoas com uma determinada renda; como pessoas que fazem parte de grupos antagônicos dentro da sociedade que, em sua luta, movimentam a história; como bloco psíquico e econômico razoavelmente homogêneo, etc.

Bibliografia

1 – Debord, G., A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
2 – Franz, Marie-Louise Von. Psicoterapia. São Paulo: Paulus, 1999 – (Amor e psique)
3 – Melo, Elizabeth C. Mergulhando num mar sem fundo. Rio de Janeiro. 2002.
4 – Jung, Carl Gustav, Tipos Psicológicos. Petrópolis: Editora Vozes Ltda. 1991.
5 – Sanford, John A., 3ª edição. Mal o lado sombrio da realidade; (tradução Sílvio José Pilon, João Silvério Trevisan; Revisão Ivo Storniolo). – São Paulo: Paulus, 1988.
6 – Trindade, Francisco. O Essencial Proudhon. São Paulo: Imaginário, Nu-Sol, Soma. 2001.

segunda-feira, maio 08, 2006

Divaga-ações

- Pensamentos:

. Proudhon é mais interessante do que Marx..
. Stirner não me agrada muito.

- Questões:

. O trabalho pode ser limitado a um conceito genérico?
. E o homem?
- O que seria, portanto, a idéia que permeia todos os trabalhos e todos os homens? Seria tiranico fazer essa generalização? Ou seria natural? Qual a validade objetiva do sensível? E das idéias?

pensando..

domingo, maio 07, 2006


A Clara Torre

André Breton
Le Libertaire, 11 de janeiro de 1952

Foi no negro espelho do anarquismo que o surrealismo reconheceu-se pela primeira vez, bem antes de definir-se a si mesmo e quando era apenas associação livre entre indivíduos, rejeitando espontaneamente e em bloco as opressões sociais e morais de seu tempo. Entre as fontes de inspiração onde bebíamos, nesse pós-guerra de 1914, e cuja força de convergência era inabalável, figurava esta final da “Balada de Solness”, de Laurent Tailhade:

Arrebata nossos corações em disparada, em farrapos
Anarquia! Ó portadora de luz!
Expulsa a noite! Esmaga os vermes!
E ergue ao céu, ainda que seja com nossos túmulos,
A clara torre que sobre o mar domina!

Nesse momento, a recusa surrealista é total,, absolutamente inapta a deixar-se canalizar no plano político. Todas as instituições sobre as quais repousa o mundo moderno e que acabam de resultar na Primeira Guerra Mundial são tidas por nós como aberrantes e escandalosas. Para começar, é contra todo aparelho de defesa da sociedade que lutamos: exercito, “justiça”, policia, religião, medicina mental e legal, ensino escolar. Tanto as declarações coletivas quanto os textos individuais do Aragon do passado, de Artaud, Crevel, Desnos, do Eluard de outrora, de Ernst, Leiris, Masson, Péret, Queneau os meus, atenstam a vontade comum de fazer com que fossem reconhecidos como flagelos e, como tais, combatidos. Todavia, para combatê-los com alguma chance de sucesso, ainda é preciso atacar sua armadura que, em última analise, é de ordem lógica e moral: a pretensa “razão’ em uso, e de uma etiqueta fraudulenta, recobre o “senso comum” mais desgastado, a “moral” falseada pelo cristianismo com o objetivo de desencorajar qualquer resistência contra a exploração do homem.
Um grande fogo conservava-se sob as cinza – éramos jovens – e creio que devemos insistir no fato de que ele avivou-se constantemente para liberar-se da obra e da vida dos poetas:

Anarquia! Ó portadora de luz!

Chama-se não mais Tailhade, mas Baudelaire, Rimbaud, Jarry, que todos os nosso jovens camaradas libertários deveriam conhecer, assim como deveriam também conhecer Sade, Lautréamont, o Schwob do Livro de Monelle.
Porque uma fusão orgânica não pôde operar-se nesse momento entre os elementos anarquistas, propriamente ditos, e elementos surrealistas? Ainda estou, vinte e cinco anos depois a perguntar-me. Não resta dúvida de que a idéia da eficácia que terá sido o espelho de toda essa época decidiu de outra forma. O que se pode considerar como o triunfo da Revolução Russa e a realização de um Estado operário provocava uma grande mudança de visão. A única sombra do quadro – que se precisaria como mancha indelével – residia no esmagamento da insurreição de Kronstradt, em 18 de março de 1921. Nunca os surrealistas conseguiram passar por cima disso. Entretanto, por volta de 1925, só a III internacional parecia dispor dos meios desejados para transformar o mundo. Poder-se-ia crer que os sinais de degenerescência e regressão, já facilmente observáveis no Leste, ainda eram conjuráveis. Os surrealistas viveram, então, na convicção de que a revolução social estendida a todos os paises não podia deixar de promover um mundo libertário (alguns diziam, um mundo surrealista, mas é a mesma coisa). Todos, inicialmente, julgaram dessa forma, inclusive aqueles (Aragon, Eluard, etc) que, em seguida, decaíram de seu ideal primeiro até o ponto de fazer no stalinismo uma carreira invejável (aos olhos dos homens de negócios). Mas o desejo e a esperança humanos jamais poderiam estar à mercê daqueles que traem:

Expulsa a noite! Esmaga os vermes!

Sabe-se muito bem que impiedosa pilhagem foi feita dessas ilusões durante o segundo quartel deste século. Por uma terrível ironia, ao mundo libertário com o qual se sonhava, substituindo-se um mundo onde a mais servil obediência é obrigatória, onde os direitos mais elementares são negados ao homem, onde toda a vida social gira em torno do policial e do carrasco. Como em todos os casos em que um ideal humano chega a esse cumulo de corrupção, o único remédio é refortalecer-se na grande corrente sensível onde se originou, remontar aos princípios que lhe permitiram constituir-se. É no próprio fim desse movimento, hoje, mais do que nunca necessário, que se encontrará o anarquismo, somente ele – não mais a caricatura que nos apresentavam ou a coisa hedionda que fazem dele – mas aquele que nosso camarada Fontenis descreve “como o próprio socialismo, isto é, essa reivindicação moderna pela dignidade do homem (sua liberdade tanto quanto seu bem-estar); o socialismo, concebido não como a simples resolução de um problema econômico ou político, mas como a expressão das massas exploradas em seu desejo de criar uma sociedade sem classes, sem Estado, onde todos os valores e aspirações humanos possam se realizar”.
Essa concepção de uma revolta e de uma generosidade indissociáveis uma da outra, e, a despeita de Albert Camus, ilimitáveis tanto uma quanto a outra, os surrealistas a fazem sua, hoje, sem reservas. Liberada das brumas de morte destes tempos, eles a consideram como a única capaz de fazer ressurgir a olhos cada vez mais numerosos,

A clara Torre que sobre o mar domina!

Fonte: Surrealismo e Anarquismo, Imaginário.