Bom dia, eu digo. Bom dia, eu
costumava dizer. Era um costume: “Bom dia”. Eu costumava a perguntá-la: como
estão as coisas, como está a casa, a vida, o cachorro, o sabor de flocos das
nuvens de algodão. “Tudo bem”, é claro, sempre era a resposta e ficávamos conversando
como se a pergunta sobre as coisas, a casa, a vida, o cachorro, o sabor de
flocos das nuvens de algodão fossem apenas um prelúdio possível, dentre outros,
para conversarmos aquela conversa. Para conversarmos aquela conversa, que
sempre começava pelas coisas, pela casa, pela vida, pelo cachorro e pelo sabor
de flocos das nuvens de algodão, partíamos de um início e, também, havia um
final. Mas o excitante era sempre o meio, o caminho da conversa. Daquelas
conversas que não se vê mais nos dias de hoje. Daquelas conversas que não se vê
mais nos dias de hoje porque não temos mais tempo, assunto, espaço, lugar ou
porque nunca começamos pelas coisas, pela casa, pela vida, pelo cachorro e pelo
sabor de flocos das nuvens de algodão. Algo mudou, e se não foi o tempo, os
assuntos, o espaço ou o lugar, eu não saberia dizer o que foi. Talvez o tempo.
O tempo mudou. Não é mais como antigamente, quando escutávamos longas músicas
de vozes estridentes. Sim, deve ser o tempo, que não permite que joguemos ele
fora, escutando longas músicas de mulheres de vozes estridentes. Ou então
porque nunca mais falamos sobre as coisas, a casa, a vida, o cachorro, o sabor
de flocos das nuvens de algodão. O balanço da cadeira hoje vai e vem sozinho,
quase solitário. A lua surge no céu pela noite e, no final da noite, sai para
dar lugar a estrela de fogo. O tempo mudou. Não é mais como antigamente, quando
escutávamos longas músicas de vozes estridentes, ou quando podíamos conversar
sobre as coisas, a casa, a vida, o cachorro e o sabor de flocos das nuvens de
algodão.
domingo, julho 08, 2012
Assinar:
Postagens (Atom)